quinta-feira, 8 de maio de 2008

A verdade de Jabor

Você que gosta de uma boa leitura, se possivel fosse, atravessaria a rua e na banca de sua preferência pediria, o jornal O Globo de terça-feira que traz o artigo de Arnaldo Jabor. Mas o jornal carioca deixou de descer em algumas cidades do interior paulista deixando órfãos seus leitores caipiras. Bom, mas isso é uma outra história. Vamos falar do Jabor e ao seu antológico artigo de terça-feira que eu li no Globo pela internet.
Se eu fosse alguém que tivesse prestígio, assim, por exemplo, se eu fosse um assessor de um vereador, pediria ao patrão que requeresse a transcrição do artigo nos anais da Câmara Municipal de Itapeva. Os vereadores - não digo todos - iriam gostar de ler um texto inteligente, escrito com talento e estilo, apurado senso crítico, ironia, humor e ginga brasileira.
Pois bem, aproveitando o embalo e os fluidos do momento dramático (para posição) em que se traça os rumos da disputa eleitoral em Itapeva, por conta própria, transcrevo algumas passagens do artigo ao qual Jabor deu o título de “Pequenas bobagens traçam nosso destino”. Vamos lá:
- O Brasil está vivendo uma ridícula revolução de costumes, um sarapatel de velhas idéias e novas anomalias que mataram os velhos conceitos que nos explicavam. Já há um pós-poder, uma pós-corrupção, uma pós-direita, um pós-crime, uma pós-miséria, uma pós-língua se cristalizando. Que palavras podemos usar para descrever o que vemos? Sou colunista de jornal há 17 anos. Falo na TV há treze. No rádio, todo dia há mais de cinco. E vejo que as palavras que sempre usei já não bastam. As idéias não correspondem aos fatos. Só nos restam os indícios.
- Outra pergunta: que estará anunciando para nosso futuro esta incessante repetição de escândalos políticos jamais resolvidos? O Lula, eufórico com seu Ibope, estimula esta impunidade, pela perversão esperta que agora pratica de apoiar indiciados, de se abraçar com os mais tenebrosos corruptos. Isto também é uma linguagem no ar. A negativa de crimes mais evidentes, o “não sei”, o “não fui eu”, vai criando uma espécie de “jurisprudência da impunidade”. Talvez a crosta de corrupção nacional fique tão grossa que nunca mais se volte a uma mínima moralidade.
- Fico alucinado com a febre de uma pseudolinguagem executiva, uma algaravia técnica e informática que enche nossos ouvidos: celulares em voz alta na rua, nos aeroportos, nos cinemas (...) Por que não se faz um celular que aperte o saco do usuário?
- Que recado nos traz a evidente hiper-sexualização das moças no Brasil (lá fora não é assim, não). Todas se vestem de “cachorras”, barriguinha de fora, ingênuas com rebolados intensos. Há algo de sinistro em tanta nudez. Riam de mim, mas não agüento mais bundas. Nos outodoors, revistas, TVs. Por que bunda vende tanto?
- Estamos mudando nesses indícios. Estamos afogados pelo ferro-velho mental do País, pelas oligarquias felizes e impunes, por um judiciário catético, pelas caras deformadas de políticos, pelas barrigas, gravatas escrotas, pela gomalina dos cabelos, pelas notas frias, pela boçalidade dos discursos, pelos superfaturamentos, estamos soterrados de detritos de vergonhas, togas de desembargadores, bicheiros soltos, balas perdidas, crianças assassinadas, celebridades imbecis, depressões burguesas, doenças tropicais, dengue barriga d’água, barbeiros e chagas, enchente que não drenou, irresponsabilidades fiscais, assassinos protegidos pelo Congresso, furtos em prefeituras, municípios apodrecidos.
Jabor, no rastro da sua indignação, arremata:
- Cientistas políticos não bastam. Precisamos de detetives da mediocridade brasileira.

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