segunda-feira, 19 de maio de 2008

Insignificâncias?

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, indagou: “Vó, você está escrevendo uma história? Por acaso, é uma história sobre mim?”
A avó parou de escrever e explicou para o neto: “Sim, estou escrevendo sobre você. Mas mais importante do que as palavras que eu estou escrevendo é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescer.”
Intrigado, o menino olhou para o lápis e não viu nada de especial. “Mas ele é igual a todos os lápis que eu já vi na minha vida”, surpreendeu-se o menino. Então, a avó explicou-lhe: “Tudo depende da maneira como você olha as coisas. Há cinco qualidades neste lápis que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.” E continuou: “Primeira qualidade: você poderá fazer grandes coisas na vida, praticar grandes atos, ter muito sucesso. Mas nunca deve se esquecer que existe uma força maior, que guia os seus passos.
Essa força nós chamamos de Deus, o criador de todas as coisas, que são seres vivos, e por isso o amamos e respeitamos.”
“Segunda qualidade: de vez em quando, eu preciso parar de escrever e usar o apontador. É que a ponta do lápis vai se desgastando com o uso e é preciso restaurá-la. Isso faz com que ele sofra um pouco, mas logo estará afiado novamente, pronto para continuar o seu trabalho. Por isso, é preciso que você saiba suportar as dores que a vida lhe trará, porque elas o farão ser uma pessoa melhor.”
“Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa errada que fizemos não é mau nem vergonhoso. Ao contrário, é importante para manter-nos no caminho certo.”
“Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira que o compõe nem a sua forma exterior, mas o grafite que está dentro dele. Portanto, você deverá cuidar sempre daquilo que está dentro de você.”
“Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele deixa sempre uma marca. De igual modo, saiba que tudo o que você fizer na vida irá deixar traços. Por isso, procure ser sempre consciente de suas ações.”

Não sei quem é o autor desta mensagem.
Ela me foi enviada, algum tempo atrás, pelo meu bom amigo Jair Carvalho. Lembrei-me dela e fiz questão de lê-la, por telefone, para minha filha Yasmin, que vai completar 14 anos.
Também não sei se ela entendeu. Às vezes, costuma desligar-se, “sair no ar” no meio de uma conversa, nesta atual fase de pré-adolescência.

Se já era difícil para os adultos entenderem as crianças, imagine-se, então, as crianças deste início de século/milênio! As vezes penso que já não temos nada mais a ensinar-lhes. Precisamos, isto sim, aprender com elas. “Elas têm a inteligência do coração”, garante.

A mesma Yasmin, quando tinha só três anos e ainda tropeçava nas palavras, deu-me prova disso. Estávamos sentados no chão da sala lá de casa. Ela entretinha-se tirando livros de uma estante. Para provocá-la, passei a guardar os livros de volta. Yasmin tirava um volume e eu recolocava outro no lugar. Lá pelas tantas, ela perdeu a paciência. Apanhou um livro na prateleira, abriu-o em uma página qualquer e, muito séria, “leu” em voz alta, sublinhando a frase com o dedinho: “Pala papai caí fola deta sala”.
Como se vê, um lápis nem sempre é apenas um lápis. Assim como certos fatos, por mais insignificantes que pareçam, são fundamentais. Até porque, como já disse o poeta, a vida é feita de aparentes insignificâncias.

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